Certas coisas nunca mudarão. Podemos estar no sexto século
antes de Cristo ou no vigésimo primeiro depois dele, mas certas tradições
permanecem e me alegram. Mesmo sendo feminista.
Um dia eu já fui a prima mais nova, eu já fui a criança
pulando as linhas marcadas na madeira, enquanto as primas mais velhas bebiam
vinho e conversavam com os mais velhos.
Eu hoje fui a prima dando conselhos, a prima com o corpo
diferente, a prima que parecia, aos olhos da mais nova, saber todos os segredos
da vida e da morte, jovem, bela, com a vida inteira aos seus pés,
descomplicada.
Eu lembro com carinho de quando tinha menos idade. Dos verões
passados na casa de praia do Recreio, louças dos nossos pais a serem divididas
(quem lembra daqueles copos de porcelana que o tio Marcos tinha, que a Carol e
Mari gostavam de usar e que eu quebrei sem querer, por querer imitá-las?), as
brincadeiras, os jogos de cartas, as idas a praia... A inexorável força do
tempo é cruel. Mari e Carol casadas, Dani na Suíça, e eu aqui, lembrando de
dormir com mosquitos e sem ar-condiocionado (vocês lembram quando ele quebrou?),
segurando suas mãos, rindo e conversando no quarto que um dia fora de nossos
pais. Piscinas no jardim, praia a poucos metros de casa, brincadeiras de War e
de casinha, fotos de havaiana... Se eu for contar todas as brincadeiras, eu não
terei espaço para escrever.
Sinto saudades, saudades de atrapalhar suas conversas e
brincadeiras de mais velhas, de querer sentar ao lado de vocês naquela longa
mesa da cozinha casa de praia, de ver vocês provando vinhos e não participar.
Saudades de uma infância bem aproveitada. Quem lembra da polaroide que a
Mariana ganhou de Natal?? Eu lembro, e adorei cada foto.
Crescer é menos divertido do que ser a criança admiradora. A
criança que vê a prima mais velha e imagina um exemplo. Pra mim, nada foi
esquecido. O gosto do arroz feito pela vovó Lena, que já se foi, é inigualável.
Os quitutes feitos pela vovó Marília então... E aquele dia que nós decidimos
misturar todos os refrigerantes do mundo?? Terrível e fascinante.
Impossível olhar pra minha infância e não ter lágrimas nos
olhos, eu aprendi e vivi tanto dentro e fora daquela cozinha gigante da casa de
praia, que eu só tenho a agradecer às minhas primas Danielle, Carolina, Mariana
e à minha tia Mimi. Vocês foram exemplos, e ainda são. Mesmo sem tanto contato,
eu lembro com amor e carinho das férias, das idas no shopping (e da Barbie que
você comprou pra mim, Dani), dos cinemas, dos jogos, das sessões de fotos...
Posso não vê-las muito, mas eu amo vocês . Hoje o dia é dos pais, mas pra mim é
uma celebração da família, e do amor que eu sinto por vocês. Obrigada por
existirem, perto ou longe. Vocês são exemplos e uma parte de mim que levarei
para sempre.
A receita de hoje? Não importa. Ter uma família feliz e
celebrá-la é o maior presente que eu posso pedir, e, se eu pudesse, viveria
cada um desses dias novamente.
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