Eu ainda me lembro do dia em que uma súbita vontade de cozinhar se apoderou de mim: eu tinha 11 para 12 anos, meu avô materno e minha melhor amiga haviam falecido há um ano – em um breve e horrendo intervalo de meses, ele em novembro, ela em fevereiro- quando, depois de ouvir mamãe contando sobre minha bisavó Marieta – ou dindinha, como ela a chamava- e sua tremenda habilidade culinária, especialmente na área de doces, decidi que gostaria de fazer uma de suas receitas. O caderno de culinária da dindinha está bem longe de nós, em Minas Gerais, com uma de suas filhas, e infelizmente minha mãe não se lembra dos ingredientes da maioria das receitas, embora se recorde vividamente das tardes que passara em uma cadeira em frente ao fogão, mexendo as panelas de bala puxa-puxa, Maria-mole e doce-de-leite caseiros. Mas uma receita bem simples, bem rápida e bem fácil veio à sua mente: a receita dos suspiros da dindinha.
Minha mãe achou a receita apropriada para uma menina de 11 anos que sabia fazer macarrão instantâneo, e me ajudou a executar a tarefa de separar a clara de três ovos, batê-las ao ponto de neve e adicionar seis colheres de açúcar refinado. Depois, me ensinou a fazer formas com a colher de café, em uma assadeira previamente untada, e assar, em fogo bem baixinho e com a porta do forno ligeiramente aberta, os famosos suspiros da vovó Marieta.
Eu me lembro do orgulho de vê-los, caramelizados e dourados, arrumados naquela assadeira de alumínio. Não eram nenhuma obra-prima, na verdade eles ficaram bem feios, mas o que poderia se esperar de uma menina que nunca havia moldado suspiros com uma colher antes?
Levei-os para a escola e fiz vários amigos, colegas e professores provarem. Alguns relutaram a princípio, mas acabaram se convencendo a dar uma chance. Foi sucesso absoluto. Eles eram feios, mas muito, muito gostosos! Ainda lembro, com satisfação, quando, mais de 7 anos depois, uma ex-colega de classe me mandou um email pedindo a receita. Fiquei tentada a passá-la errado, a não revelar o grande segredo para que os suspiros não queimem: o ato de deixar a porta do forno ligeiramente aberta com a ajuda de um pano de prato. Mas tive que conter esse ímpeto egoísta de fazer com que apenas os meus suspiros saíssem certos, e passei a receita simples e saborosa de minha bisavó adiante. Tenho certeza que ela sorri pra mim, do acampamento do outro lado. E até hoje, meus amigos se recordam dos suspiros que fiz ao longo de minha adolescência, dos 12 aos 16 anos. Parei de fazê-los, pois uma antiga paixão platônica conseguiu escapar deles duas vezes! Eu os fiz, com todo o amor e carinho do mundo, bati no braço – já que minha batedeira estava queimada- lindos suspirinhos moldados com bico estrela do saco de confeiteiro. Mas ele me deu bolo nas duas vezes que o fiz para ele, e a partir dali desisti de fazer os suspiros. Estou esperando até hoje algo que me motive a fazê-los de novo.
Enquanto isso, estou disposta a passar adiante receitas fáceis para contrariar as mulheres pós-feminismo que se dizem ocupadas demais para cozinhar, e também os homens que se recusam a pegar as frigideiras.
A receita dos suspiros da dindinha já está no post... A variação pode ser feita colocando raspas de limão, ou essência de baunilha nas três claras batidas em neve com as seis colheres de sopa de açúcar (refinado para conseguir o suspiro caramelado, ou de confeiteiro para um suspiro mais parecido com o de padaria...). É só assar em fogo baixíssimo até firmarem e dourarem. Ela é muito fácil, muito saborosa e todos ficam impressionados com suspiros caseiros.
Na foto: já que não tenho fotos dos suspiros, compartilho a dos cupcakes que fiz para o aniversário da minha irmã, próxima receita fácil que compartilharei com vocês =)